terça-feira, 19 de junho de 2012

Pela amizade...

Família: conjunto de pessoa da mesma raiz ancestral.

Irmão: filho do mesmo pai ou mãe; título dado a pessoa da mesma irmandade, confraria ou comunidade religiosa.

Amigo: aquele que temos uma afeição recíproca, que inspira simpatia e confiança.

Temos família (conhecida ou desconhecida, de sangue ou não), alguns temos irmãos, mas dentro desse universo poucos são os amigos comparados ao número de familiares e irmãos segundo a definição acima, por menor e incompleta que ainda seja essa definição. Nem todos somos amigos da nossa família ou dos nosso irmãos. Nem sempre damos valor aquilo que os outros nos dão em termos emocionais e afetivos. Nem sempre somos amigos de quem é nosso amigo, e nem sempre temos a amizade de quem somos amigos.

Cada ser humano é um espírito preso dentro de uma prisão corpórea que em seu estado consciente tende a procurar uma satisfação para o estado de estar vivo. Mas os sentimentos, sensações, fantasias, pensamentos, são coisas privadas e a cada um de nós pertence individualmente a experiência. Isso cria nossa estrutura corpórea, emocional e mental, e pelas vibração energéticas que atraímos ou afastamos as pessoas de nossas vidas, criando assim nossa família e irmãos, dentre esses criando alguns amigos. Como diria Aldous Huxley: "Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares", eu diria não cada grupo, mas nossa prisão corpórea é nosso próprio universo insular.

Na augusta Ordem DeMolay, da qual poucos procuram seu significado, temos uma cerimônia denominada Cerimônia das Luzes, uma das mais belas cerimônias. Toda toda redor do Altar, a cerimônia nos lembra sobre o momento da nossa iniciação aonde somos consagrados a cada uma das virtudes antes de nascer como DeMolays, e mais importante do que isso, mostra o perigo de apagar as virtudes dentro de nós.

Altar dos juramentos


Nosso universo corpóreo não é somente composto de matéria orgânica, mas também de emoção e mente, que emitem a todo o tempo vibrações de alto ou baixo nível. Quem nunca se sentiu mal ou bem ao entrar num lugar ou a apertar a mão de uma pessoa? Quantas vezes nos deparamos com pessoas se afastando da Ordem DeMolay após sua iniciação, ou após atitudes de más conduta na vida profana? Ao sermos iniciados somos marcados (literalmente) com marcas que nos dão acesso a essa entidade de energia que podemos chamar de Egrégora DeMolay. E a partir do momento em que as atitudes emocionais e mentais entram em conflito de vibração dessa egrégora, cedo ou tarde se afastam. Pois as energias tornam-se incompatíveis.
Esses que carregam as mesmas marcas que nós da iniciação chamamos de irmãos. E dentro dessa egrégora vão se aproximando aqueles cujo universos se assemelham em interesse, seja qual for. Ganhar cargos, querer ser dono do Capítulo, praticar a filantropia, estudar a ritualística... assim vão se simpatizando os universos de vibrações semelhantes e se formando as amizades com boas ou más intenções. Apesar da ritualística ser praticada em conjunto com 23 oficiais, continuamos isolados e isso nada pode mudar. As mudanças de atitudes que conduzem a maiores vibrações só nós mesmos podemos fazer. Como muito bem disse o Huxley, somos universos insulares.

Apesar desse pensamento, não devemos tirar uma conclusão de egoismo. Muito pelo contrário de egoísmo, essa visão nos enfatiza a importância de nos preocuparmos mais com todos os humanos, pois todos somos irmãos e da mesma família, por mais que não pareça termos um ancestral em comum. A partir do momento em que buscamos o centro do nosso universo, ao redor de que nossa vida gira, e conseguimos uma amizade e uma paz com nós mesmos, de que adianta se manter calado e isolado dentro do próprio mundo?

Filantropia em asilo
Enxergar que a vida tem valor e que nós temos valor de diante da vida, enfatiza nossa capacidade de tratarmos o outro melhor, de oferecer uma mão ajuda a um estranho, sem nunca esperar nada em troca. Conhecer nosso universo é se aproximar daqueles que possuem um universo semelhante e criar uma irmandade e uma amizade. Devemos considerar muitos como amigos, ainda que não seja recíproco. A partir do momento em que enxergarmos algo de especial no nosso universo, percebemos que o outro também tem esse especial, mesmo que ele mesmo não perceba. A amizade é algo além do plano material, portanto não tem raça, cor ou idade. Oferecer uma mão caridosa para além do seu universo é um ato de amizade, mesmo que desconheçamos a pessoa.

A egrégora DeMolay é fraterna e misericordiosa a quem a acessa, mas também é igualmente rigorosa. Nos dá oportunidades de fazermos o bem e os meios para que tudo aconteça, mas também nos ensina dolorosas lições quando deixamos de ser compatíveis com sua vibração.

Na cerimônia das luzes vemos o resultado do que é um DeMolay sem virtudes, é o Templo dos homens na escuridão.

Então o DeMolay que apresenta a cerimônia, no meio da escuridão, ascende o centro do altar, a virtude do Companheirismo, e nos relembra: "E no entanto, cada um de vocês, sendo um DeMolay, traz dentro de seu coração uma chama, um facho para lhe guiar através da escuridão. Se puder fazer esta luz brilhar sobre outra pessoa, se puder penetrar nas profundezas mais recônditas de sua alma e acender a chama que ali está, então aí reside o objetivo da Ordem DeMolay, ali está sua finalidade de viver."

O ascender dessa virtude no meio da escuridão é representar também a chama da amizade dentro de nós se expandido para fora do nosso universo.
Frank Sherman Land,
fundador da Ordem DeMolay
   Superar o individualismo e unir-se com os universo dos outros, é a amizade.       Se não unir, pelo menos oferecer a união. Assim como relembra a quarta virtude acesa no meio da escuridão. Não sermos amigos dos nosso irmãos, mas de todos que pudermos. "Se puder fazer esta luz brilhar sobre outra pessoa, se puder penetrar nas profundezas mais recônditas de sua alma e acender a chama que ali está, então aí reside o objetivo da Ordem DeMolay". Pois "irmão" pode ser um título a pessoas da mesma fraternidade, mas "amigo", é um sentimento, e é sobre a amizade que estamos falando quando é dito o objetivo da Ordem DeMolay.

   Amigo é aquele que fala a verdade, que quer o seu bem, mesmo que isso doa muito. Temos muitos exemplos de amigos no mundo, todos eles viveram suas vidas de maneira significativa e importante para todos nós. Pois quem é amigo salva a vida do próximo só por tentar unir esses universos separados por nossa prisão corpórea, e só pela Lei do Amor tal união torna-se possível. "Aquele que salva uma vida, salva todo o mundo", como diz o Talmud.

Provável verdadeira fisionomia de Buda
A primeira das virtudes DeMolay nos impõe a importância do amor, aos nossos pais. Há uma semelhança a tal ensinamento discutido no passado pelo Mestre Buda quando este relembrou aos homens que nosso primeiro mestre é nossa mãe, pois ela nos dá o primeiro alimento da sobrevivência, e se aos nossos pais não respeitamos, a ninguém mais conseguiremos respeito. E Buda, assim como Jesus e quase todos os mártires, foi compreendido por poucos, acusado por muitos, mas que dedicou sua vida ao sacrificou pela amizade aos homens, trazendo sabedoria e simplicidade à vida.

Exemplo de perfeita amizade é a mitologia grega de Damon e Pythias, que personificam a quarta virtude. Pythias, condenado injustamente a morte só deseja ver pela ultima vez sua família, o que lhe foi negado. Então Damon que presenciava o julgamento ofereceu sua vida como prova de que Pythias voltaria para o local onde seria sua morte após se despedir de sua família. Chegado ao limite da espera, Pythias reaparece provando a Damon o valor da confiança nele depositada. É então que o Rei que condenava Pythias percebe o erro que cometeria se apagasse injustamente a chama da mais nobre virtude de um homem que é a amizade e o companheirismo.

Em memória e pela amizade a nós daqueles que isolados em seu universo únicos conseguiram o expandir e ser amigos do mundo e mudar-lo, sem nem que nem tenhamos consciência. Krishnamurti, Budha, Ieshua, Hughes de Payns, Jacques DeMolay, Crowley, Madre Teresa, São Francisco, Ramakrishna, Jacob Boehme, Saint Martin, Gandhi, Pitágoras, Krishna, Frank Sherman Land, Louis Gordon Lawer... Que sejamos amigos e tenhamos amigos como eles tiveram, que seu exemplos e martírio pela amizade nos ajudem a combater a própria ignorância.
Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só ombro ou o colo, quero também ser sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
(Oscar Wilde)
Nem louco, nem são. Nem criança, nem velho. Maluco beleza.

Irmão Walt Disney

Petrópolis - RJ
14-Jul-2011, sol em Câncer, lua em Capricórnio.

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